Distrito Federal

Truculência

Pertences retirados pela PM em ação violenta na Casa Ieda Delgado ainda não foram recuperados

Movimento deve se reunir nesta terça-feira (22) para decidir os próximos passos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Momento da liberação de Thaís Oliveira, uma das coordenadoras da ocupação, que foi detida durante a desocupação - Reprodução vídeo/ Instagram

Após desocupação truculenta da Casa de Referência Ieda Santos Delgado, realizada pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na manhã desta segunda-feira (21), o imóvel foi esvaziado e a polícia está impedindo a retomada do espaço por parte das mulheres do Movimento Olga Benário. Todos os móveis e pertences, comprados ou conseguidos por doação, foram retirados da Casa.

De acordo com Thauany Pires, uma das coordenadoras da Casa Ieda, além dos pertences coletivos, a polícia também retirou os pertences individuais das mulheres que estavam na Casa. Os objetos ainda não foram recuperados. O Movimento se reunirá nesta terça-feira (22) em plenária para decidir os próximos passos diante da desocupação.

“A polícia foi truculenta, bateram na gente, jogaram spray de pimenta, um carro da administração do Guará me atropelou e acelerou comigo em cima”, relatou Thauany Pires.

Segundo a assessoria do deputado Fábio Felix (PSOL), que realiza acompanhamento jurídico do caso, uma das coordenadoras da Casa Ieda, Thaís Oliveira, que havia sido presa pela PMDF, foi liberada. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF segue na Casa, no Guará, acompanhando possíveis desdobramentos da ação.

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O deputado ainda caracterizou como “absurda” a decisão do GDF de desocupar de maneira truculenta a Casa. “A própria Defensoria Pública do DF se manifestou favorável à permanência do movimento no local, através de requerimento à administração Regional. Presto também a minha solidariedade à Thaís Oliveira, uma das coordenadoras da ocupação e que foi detida durante a desocupação. A Comissão de Direitos Humanos acompanha a ação no local e irá questionar todas as arbitrariedades que aconteceram esta manhã”, afirmou.

O imóvel, localizada próximo à estação Feira do Metrô-DF, no Guará, região administrativa do DF, estava abandonado há mais de 10 anos, sem qualquer destinação pública, e vinha sendo revitalizado pelo coletivo de mulheres, que chegaram a plantar uma horta orgânica e realizar atividades de formação para mulheres no local.

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A Administração Regional do Guará informou que a casa atualmente é objeto de parceria público-privada para a instalação do novo Centro de Convivência do Idoso (CCI), em fase de licitação. O órgão, no entanto, não informou quando esse novo equipamento público será disponibilizado e, agora, o imóvel deverá ser fechado por tempo indeterminado. A ameaça de despejo já havia sido feita na semana passada pelo administrador do Guará, Roberto Nobre da Silva.

Saiba mais

A ocupação, é a 13ª do Movimento Olga Benário no país, sendo a primeira no Centro-Oeste, foi batizada de Casa Ieda Santos Delgado, em homenagem à militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) durante a ditadura militar, estudante que se formou em ciências jurídicas e sociais pela Universidade de Brasília (UnB), em 1969. Devido à sua atuação política, que se iniciou ainda no movimento estudantil, foi presa pelo regime em abril de 1974, quando desapareceu. A Comissão Nacional da Verdade concluiu que Ieda foi torturada, morta e enterrada pelos militares.

Segundo as organizadoras da ocupação, o espaço surgiu no vácuo de assistência deixado pelo fechamento da Casa da Mulher Brasileira e da necessidade de acolher as vítimas de violência doméstica no DF. Diariamente, a Casa Ieda realizava programação de oficinas culturais e práticas oferecidas por profissionais voluntários.

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Edição: Flávia Quirino