Distrito Federal

ATL 2023

Povos Originários apontam demarcação de terras como medida de enfrentamento à crise climática

Após debates, milhares de indígenas ocuparam a Esplanada para denunciar as violências e alertar sobre o clima

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Indígenas chamam atenção sobre a importância das demarcações para a proteção ambiental - Foto: André Ribeiro

Cobranças pela agilidade para o processo de demarcação de terras indígenas e o enfrentamento às mudanças climáticas foram temas do 19º Acampamento Terra Livre (ATL) nesta quarta-feira (26). Um dos eventos que marcou essas discussões foi a plenária: "O futuro indígena é hoje: sem demarcação não há democracia! Povos Indígenas Decretam Emergência Climática". Antes dos discursos houve a retomada do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas (Cimc) da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

“Temos que olhar para todos os biomas e apenas não só pra Amazônia e por isso aqui temos representantes de todas as regiões para retomar o Conselho numa nova conformação, com o comitê nacional, mas também cinco comitês regionais para discutirmos as mudanças climáticas e os impactos para os povos indígenas nas bases”, explicou a líder indígena Sinéia Wapichana, que é das terras indígenas Raposa Serra do Sol e Serra da Lua, em Roraima.

Sinéia que é uma liderança indígena conhecida internacionalmente pela defesa do meio ambiente fez questão de relacionar o enfrentamento às mudanças climáticas com as demarcações de terras indígenas. “Os povos indígenas já estão nessas terras e já fazem o que chamamos de política de gestão de territórios, que é cuidar dos territórios, do meio ambiente como nós indígenas fazemos e fazemos muito bem”, afirmou Sinéia Wapichana.


O Comitê Indígena de Mudanças Climáticas foi reformulado para que discussões aconteçam nas bases / André Ribeiro

O líder Yanomami Dário Kopenawa também participou do evento e destacou os danos ambientais e sociais que o garimpo ilegal trouxe para seu território. “O Mundo inteiro reconhece que nós povos indígenas estamos sofrendo há muito tempo. Muitos morreram nos últimos quatro anos [governo Bolsonaro]. A população está sofrendo com garimpeiros ilegais”, afirmou Dário, que também é diretor da Associação Hutukara Yanomami.

“É importante falar sobre a violações que o povo Yanomami está sofrendo por causa dos invasores na terra. Já fizemos denúncias nacionais e internacionais na ONU [Organização das Nações Unidas] e até agora nós não conseguimos o apoio internacional, apoio nacional que precisamos”, disse o líder indígena se referindo a presença de garimpeiros na região, apesar das esforço do governo federal para retirar os invasores, iniciado logo no início do governo Lula.

A plenária sobre emergência climática também contou com uma liderança indigna internacional, Juan Carlos Jintiach, secretário executivo da Aliança Global de Comunidades Territoriais. “Estamos solidários com nossa cultura, com nossa irmãos, pois precisamos todos aprender em mãos dadas. Estamos juntos, temos desafios comuns e precisamos defender nossos territórios e o meio ambiente” disse secretário da Aliança Global de Comunidades Territoriais.

Por fim, a representante do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), a engenheira Monique Sacardo Ferreira fez questão de destacar que estamos em emergência climática e que a preservação dos territórios indígenas é importante nesse processo.

“O governo e a sociedade como um todo precisam frear os impactos da mudança do clima e a gente sabe que as populações indígenas já estão sofrendo e muito com esse processo. Então precisamos de muito diálogo entre Ministério e vocês”, disse Monique destacando a criação da Secretaria Nacional de Mudança Climática, que vai dialogar com o Comitê Indígena de Mudanças Climáticas.


Cobranças por demarcações de territórios indígenas estiveram presente na marcha que ocorreu na Esplanada / André Ribeiro

Logo após a plenária, milhares de pessoas desceram em marcha rumo ao Congresso Nacional para anunciar que a demarcação dos territórios indígenas são a solução à crise climática. Faixas, cantos, cartazes e manifestações políticas marcaram a segunda marcha do ATL. Para os indígenas, a proteção dos territórios e dos povos originários é a garantia do futuro de toda a humanidade.

Marco Temporal

Na tarde desta quinta-feira (27) acontece uma plenária sobre o julgamento do Marco Temporal e suas implicações no direito dos povos indígenas. A retomada do julgamento no Supremo Tribunal Federal está prevista para o dia 7 de junho. Ainda na Plenária, a coordenação da Apib deve anunciar o início das mobilizações para acompanhamento do julgamento.

A última e terceira marcha do ATL será realizada às 16 horas, em defesa da democracia e com o apoio de outros movimentos sociais.

Programação

O ATL começou no dia 24 e vai até a sexta-feira (28) com diversas plenárias, rituais religiosos, eventos culturais na Praça da Cidadania no Setor Cultural Norte, em Brasília.

:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::

Edição: Flávia Quirino