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para não esquecer

Filme ‘Memória Sufocada’ é convite para busca sobre verdade da história do país

Documentário estreou no Cine Brasília e fica em cartaz até 5 de abril

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Através de buscas pela internet, filme do diretor Gabriel Di Giacomo reconstrói o passado do Brasil e esbarra no presente. - Foto: Heloisa Viana

O filme ‘Memória Sufocada’ foi lançado nesta quinta-feira (30) no Cine Brasília e fica em cartaz até o dia 05 de abril. A sessão contou com uma roda de conversa com a participação do diretor Gabriel Di Giacomo e do historiador Paulo Parucker. A data de estreia não foi escolhida por acaso, afinal nesta sexta-feira (31) o golpe militar no Brasil completa 59 anos.

O documentário inicia com cenas do depoimento de Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Doi-Codi de São Paulo, órgão subordinado ao Exército e local de torturas e repressões. O nome do filme faz um paralelo com o livro escrito por Ustra chamado ‘Verdade Sufocada’, que o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ser o seu livro de cabeceira em uma entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura, fato que chamou a atenção do diretor Gabriel Di Giacomo.

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“A ideia do documentário surgiu em 2018, naquela entrevista do ex-presidente pro Roda Viva quando ele citou o livro do Brilhante Ustra, eu senti que uma coisa muito ruim estava para acontecer afinal era um candidato à presidência exaltando um torturador. A ideia era fazer um filme convencional, mas quando a pesquisa se iniciou veio a pandemia da Covid-19 e era impossível produzir qualquer filme porque a Ancine estava paralisada, devido ao último governo”, explica Gabriel.

O filme traça uma ligação entre o Golpe militar de 1964 e o processo de impeachment da ex presidenta Dilma Rousseff, que culminou na eleição de Jair Bolsonaro e os ataques à democracia do dia 08 de janeiro. Com elementos que remetem à uma navegação na internet e em redes sociais, ‘Memória Sufocada’ traz cenas resgatadas do Arquivo Nacional, como discursos dos presidentes da ditadura e propagandas televisivas do governo da época, que exaltava fortemente o nacionalismo. 

Sobre o seu processo criativo e o período de pesquisa, Gabriel explica que ao montar o filme com as imagens foi complementando conforme os buracos e necessidades que surgiam.

“Fiquei horas trancado no quarto, vendo vídeos, arquivos, todo material estava disponível na internet e nunca tinha assistido os depoimentos da Comissão da Verdade na íntegra. Eu comecei a pesquisar e falei ‘Puts, será que dá pra fazer um filme só com arquivo?’, e comecei a montar para ver se tinha começo, meio e fim. Aí eu ia montando o filme e a montagem ia mostrando uns buracos para mim, a montagem foi puxando a pesquisa no final. Eu fiz uma pesquisa com livros e documentos primeiro, mas a pesquisa de imagem foi a montagem que foi chamando, foi como um quebra cabeça mesmo e os buracos eu ia achando na internet”, afirma.

Com cenas de dentro do Doi-Codi e projeções realizadas em seu interior, o filme explica também a participação dos Estados Unidos no processo para derrubar o ex-presidente João Goulart, traz depoimentos de outros torturadores e de vítimas sobreviventes na Comissão da Verdade. Além disso, o filme explora também o termo “pós verdade”, a Lei da Anistia e traz cenas dos apoiadores de Bolsonaro solicitando a volta do Ato Institucional 5 durante a pandemia da Covid-19 em 2020, um período difícil e de isolamento social.

Gabriel também explica como a internet foi sua aliada para pesquisar e montar o filme.

“No final a gente tem acesso a todo tipo de informação na internet, acho que esse é um dos questionamentos do filme também, que é a qualidade da busca que a gente tá fazendo na internet. Porque na internet toda informação é idônea, então é sempre importante checar as fontes e a origem daquela informação e é por isso que o filme também tem um site chamado memoriasufocada.com.br, que tem toda a pesquisa que a gente usou no filme, acesso aos documentos completos que estão no filme, acesso a depoimentos na íntegra da Comissão da Verdade. No meu sonho, no meu ideal, as pessoas iriam fazer uma busca no site depois de assistir ao filme e montar o seu próprio filme, mesmo que seja na cabeça delas, buscar as informações por elas mesmas. Eu tenho certeza que se alguém pesquisasse as fontes, os fatos históricos ia chegar a algumas conclusões semelhantes às que estão no filme: a ditadura não é boa para nenhum país e que exaltar torturador não é saudável para a democracia”, conclui o diretor de Memória Sufocada.

Filme ‘Memória Sufocada’

Onde? Cine Brasília, EQS 106/107

Quando? Dias 31 de março, 02 e 04 de abril às 20:30 e dias 01, 03 e 05 de abril às 20:35

Duração: 75 minutos

Gênero: Documentário

Distribuidor: Embaúba Filmes

Mais informações: memoriasufocada.com.br

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Edição: Flávia Quirino