Distrito Federal

Lutas anticoloniais

“Estudos Palestinos sempre estiveram conectados ao movimento de libertação”, observa pesquisadora palestina

Em Brasília, pesquisadores debateram sobre conexões entre a luta de libertação palestina com movimentos sociais

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Sarah Ihmoud e Devon Atallah - Foto: Rafaela Ferreira/Brasil de Fato DF

Um paralelo entre a luta de libertação palestina com os movimentos decoloniais no Brasil foi traçado por Sarah Ihmoud, antropóloga chicana-palestina, e Devin George Atallah, PhD e professor assistente do Departamento de Psicologia da Universidade de Massachusetts Boston.

Os pesquisadores estiveram em Brasília para participar de um ciclo de atividades realizado pelo Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) com o grupo de pesquisa do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de Brasília (UnB) “Psicologia e Ladinidades".

“Nós fazemos parte de uma tradição de Estudos Palestinos, em que sempre estiveram conectados ao nosso movimento de libertação. Como podemos criar conhecimento que esteja embutido nas experiências de sobrevivência do nosso povo, de Nekba, do genocídio em curso do nosso povo, de sobreviver à brutalidade da violência colonial dos colonos?”, diz Sarah.

A antropóloga ainda faz uma conexão entre as comunidades no Brasil e Gaza, como um espaço para “entender a colonialidade do poder e sua ruína”.

“Desde os projetos genocidas históricos contra comunidades negras aqui e comunidades indígenas até as lutas contínuas pela libertação dessas estruturas de poder que oprimem todos nós, de diferentes maneiras. Então, tem sido uma oportunidade de conectar nossas lutas contra esses projetos coloniais e de recentralizar nossa motivação e a urgência de nosso trabalho como acadêmicos neste momento que estão comprometidos com a libertação”, explica.

Massacre Palestino

Há mais de 1 ano, o mundo assiste ao massacre palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza — considerado genocídio por cerca de 50 países em um caso que tramita na Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU, em Haia. A maioria dos mais de 45 mil palestinos mortos são civis, mulheres e crianças.

Desde o dia 7 de outubro do ano anterior, ao menos 27.585 pessoas foram mortas em Gaza, das quais 70% são mulheres e crianças – outras 8 mil pessoas seguem desaparecidas. Quase 67 mil ficaram feridas, incluindo mais de 8 mil crianças. Na Cisjordânia ocupada, 383 palestinos foram mortos, incluindo 101 crianças, e mais de 4.250 feridos. Os números são contabilizados pela Sociedade Palestina Crescente Vermelho e pelo Ministério da Saúde palestino. 

Ao Brasil de Fato DF, Devon Atallah também lembra do papel de um Estado-Nação no exercício de seu poder. Ele destaca sobre a importância da pressão por um cessa-fogo imediato e a libertação palestina. “Desde desinvestir em sanções de boicote contra Israel, o número um é o que os palestinos estão pedindo, apoiar o movimento BDS.”

Feminicídio e o feminismo palestino

Em outro paralelo entre Brasil e Palestina, Sarah Ihmoud, que pesquisa as experiências das mulheres palestinas de sobrevivência e narração do genocídio, destaca que a violência de gênero e o feminicídios estão entrelaçados no “tecido dos estados coloniais”.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, o número de feminicídios no último ano aumentou no país, chegando a 1.467 vítimas, maior resultado desde a criação da lei quecriminaliza esse tipo de violência, instituída em 2015. O Escritório de Direitos Humanos da ONU disse, neste ano, que quase 70% das vítimas na guerra de Gaza eram mulheres e crianças.

Sarah destaca que, em seu tempo no Brasil, foi falado sobre os feminicídios, em particular a violência de gênero contra mulheres negras, e sobre as lutas para acabar com a violência patriarcal em comunidades historicamente oprimidas, nas favelas, nas comunidades marginalizadas, nas comunidades da periferia.

“Isso é algo com o qual nos conectamos profundamente como mulheres palestinas e como feministas palestinas, porque nossos corpos e nossas vidas também são alvos dessa forma pela intersecção da violência colonial e patriarcal”, diz.

“Quando entendemos a Palestina como um convite para testemunhar essas geografias mais amplas de poder colonial e violência e como também as desfazemos, podemos ver que a luta para acabar com a violência de gênero no Brasil também é uma luta para acabar com a violência de gênero na Palestina”, explica Sarah.

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Edição: Flávia Quirino