A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada há 76 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi celebrada nesta terça-feira (10) com uma programação especial organizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
O evento, intitulado Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democracia, reuniu coletivos de mulheres bordadeiras de diversos estados, lideranças comunitárias, empresárias, artistas, magistradas, pesquisadoras, educadoras, além de lideranças indígenas e acadêmicas. A programação incluiu debates, exposições, performances poéticas e a apresentação do Observatório de Direitos Fundamentais Políticos das Mulheres, iniciativa do TSE.
A intenção foi “dar voz” às mulheres, em reconhecimento às suas lutas em defesa do Estado Democrático de Direito e às iniciativas coletivas espalhadas pelo país que usam a arte educação para difundir os direitos humanos.
A presidente do TSE, ministra Carmem Lúcia, destacou na abertura do evento, no Espaço Ministro Sepúlveda Pertence, a importância da data como “uma oportunidade para as mulheres, juntamente com os homens, pensarem o que é bom para todas as pessoas e o que pode ser feito para se chegar à igualação, uma ação permanente pela igualdade”.
“Que a declaração dos direitos não seja apenas um verbo, mas que seja uma ação permanente, para que a gente tenha um mundo com mais paz, um mundo mais justo e com liberdade para todas as pessoas serem o que quiserem ser”, declarou a ministra.
A mesa Conversa de Mulher apresentou três painéis: "Força da Mulher", "Fé na Mulher" e "Perfume de Mulher", com depoimentos de lideranças como Alessandra Korap, da Associação Indígena Pariri, Mãe Nilce de Iansã, do Ilê Omolu Oxum, da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (Renafro) e Ana Paula Marques, atleta paralímpica de halterofilismo, sobrevivente de uma tentativa de feminicídio.
“Este é um dia em que nós não estamos aqui para falar, estamos aqui para ouvir aquelas que têm a força da mulher, a fé na mulher e o perfume de mulher. São conversas de mulher, ouvindo pessoas que têm essa força na sua vida, como exemplo para todas nós, a fé na vida e nas pessoas e, principalmente, o aroma de democracia para todos”, concluiu a ministra.
Democracia em destaque
Três exposições ocuparam a sede do TSE para o evento. A democracia em votos foi apresentada pela professora e historiadora Heloísa Starling, da equipe do Projeto República, do Núcleo de Pesquisa, Documentação e Memória da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Já a Palavra de Mulher: a vida que se conta reuniu um valioso acervo com a exposição de livros direcionados às questões de gênero, violência contra a mulher, direito feminino, entre outros.
A democracia bordada expôs mantos bordados de Sávia Dumont e dos coletivos Bordados Militantes (RJ), Coletivo Açafrão (RJ), Fio às Cinco em pontos (RJ), Matizes Dumont (DF), Linhas da Gamboa (RJ), Linhas da Resistência (DF). As peças representaram coletivos de bordadeiras de todos os estados, com temas da agenda social brasileira como: a luta por igualdade racial, contra a violência de gênero e o racismo, e em defesa dos direitos à saúde, educação, ambientais e indígenas.
“Estamos aqui para mostrar a voz feminina, a força e a delicadeza da mulher brasileira, quando a gente, com linhas e agulhas conta a resistência , os desejos, os anseios de todo o Brasil.Essa é a voz da Democracia, esse é o exercício da Democracia, quando a gente junta os coletivos de bordados para uma só ação, uma só voz, dizer o que a gente quer: a Democracia, com muita Justiça, com muita força e delicadeza”, afirmou a escritora e bordadeira Sávia Dumont, articuladora da exposição junto ao TSE.
Segundo o coordenador de Gestão Documental do TSE, Cleber Schumann, o órgão confeccionou os totens informativos sobre as peças expostas e a Carta para a Democracia para valorizar cada obra, com base nas informações fornecidas pelos coletivos de bordadeiras. Ele destacou que a data propiciou uma homenagem à cultura brasileira que é produzida pelas mulheres engajadas na defesa da Democracia, um dos compromissos institucionais.
Carta para a Democracia
Destaque no evento, a enorme “Carta para a Democracia” exposta no TSE durante o evento, foi bordada pelas mãos de mais de 300 mulheres de todo o Brasil, a partir do documento redigido pelo jurista Gofredo Teles Jr. e lido na USP, em 1977, onde reafirma que só há possibilidade de uma vida digna dentro da democracia.
A arte educadora e bordadeira Marisa Silva, do projeto Fios às cinco em pontos, do Rio de Janeiro, fez um resgate histórico do trabalho, desde a pandemia quando entrevistou bordadeiras de todo o país, que depois deu origem à confecção da grande carta bordada em tecido, em 2022.
“Eu sonhei com um projeto que nós teceríamos essa carta, a partir de um convite feito para várias bordadeiras e coletivos que bordam pela Democracia. Depois juntamos os fragmentos. Ela é a base de nossa Constituição. Hoje no Dia dos Direitos Humanos estamos falando do direito à uma vida digna, e tudo isso está dentro de nossa Constituição, que veio a partir dessa carta”, explicou com emoção.
Em 2023, um novo projeto foi encampado por Marisa Silva “Qual é a sua bandeira?” com a confecção de peças representando todos os estados brasileiros, produzidas por coletivos de bordadeiras, para serem apresentados na posse do Presidente Lula e dos eleitos em 2022, na capital federal.
Edição: Flávia Quirino