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O Quarentão da Ceilândia e a construção da identidade periférica e do Hip-Hop do DF

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"Espaço foi um grande polo de disseminação da cultura negra e do movimento Hip-Hop para todo o Distrito Federal" - Reprodução
Desde essa época o GDF não tinha a descentralização da cultura como algo importante

O Salão de Múltiplas Funções, popularmente conhecido como Quarentão, foi construído no Centro da Ceilândia nos anos 70, momento em que a cidade começava a se desenvolver. No início, o espaço sediava apenas casamentos, formaturas e atividades do poder público, mas em pouco tempo também passou a ser referência de lazer e diversão na região administrativa.

O Quarentão se tornou um dos pouquíssimos espaços de lazer fora do Plano Piloto, e na Ceilândia era uma das únicas alternativas de lazer além dos bares.

Nos anos 80, o espaço foi um grande polo de disseminação da cultura negra e do movimento Hip-Hop para todo o Distrito Federal! Lá, os jovens DJs tocavam os hits nacionais e internacionais, e os primeiros MCs da cidade começaram a rimar ali.

Em eventos promovidos pelo DF Zulu Breakers, muitas crews de break dance se reuniram na frente do Quarentão para treinar coreografias. Mesmo sendo um polo cultural da época e fazendo parte da estrutura da Administração de Ceilândia, o Quarentão aos poucos foi sendo propositalmente esquecido pelo poder público e sua manutenção passou a depender do público que frequentava e usava o espaço.


"Espaço foi palco para apresentações de grupos nacionalmente famosos na época" / Reprodução

Mesmo com o abandono estatal, o espaço foi palco para apresentações de grupos nacionalmente famosos na época, como Thaide e DJ Hum, Racionais MCs, e recebeu visitas de grandes personalidades brasileiras como Paulo Freire e Belchior. No início dos anos 90, a guerra entre gangues no DF provocou uma drástica redução no uso do espaço por grupos jovens. 

Com a redução do uso pelo público que ainda se preocupava com a manutenção do local, o espaço acabou abandonado de vez, mostrando que desde essa época o Governo do Distrito Federal não tinha a descentralização da cultura como algo de extrema importância para o desenvolvimento social.

Em 2002, o GDF reformou o espaço e o transformou em um Restaurante Comunitário, sem se preocupar com a memória do espaço. Em 2014, o roteirista e diretor Adirley Queirós retratou o espaço em “Branco Sai, Preto Fica” criando uma espécie de memória fantasiosa sobre o espaço em Ceilândia. O filme foi um sucesso tão grande que ainda hoje as pessoas acreditam que o longa-metragem é uma espécie de documentário, mesmo com o diretor afirmando que se trata de uma ficção científica.

:: Hip Hop agora é patrimônio cultural imaterial do Distrito Federal ::

Agora que o Hip-Hop se tornou patrimônio cultural e imaterial do Distrito Federal, esperamos que a memória de um equipamento cultural tão importante seja retomada, para que não nos esqueçamos do seu papel fundamental na formação da identidade periférica do DF.

* Max Maciel é pedagogo e deputado distrital.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha do editorial  do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Márcia Silva