Distrito Federal

Sem Direito à Cidade

Moradores do Sol Nascente/Pôr do Sol apontam problemas e descaso com transporte público na região

Estudo apontou que a maioria das linhas de ônibus deixa de existir aos finais de semana

Brasil de Fato | Brasília (DF)  |
Moradores apresentam demanda durante audiência no Sol Nascente/Pôr do Sol - Luan H Bastos

Os problemas do transporte público marcaram a audiência pública "Mobilidade Urbana como Direito à Cidade" que foi realizada nesta sexta-feira (27) na região administrativa do Sol Nascente/Pôr do Sol, como parte do projeto Câmara nas Cidades da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

“Conheço o que é morar no Pôr do Sol desde o começo. O normal do trabalhador aqui é acordar 5 horas da manhã e chegar às 8 horas no trabalho, às vezes atrasado e ainda levar uma bronca”, relatou a farmacêutica Larissa Alencar, que também integra o movimento social Brigadas Populares. “Não temos direito à cidade. Esses espaços de lazer da cidade foram negados para gente desde sempre. O último horário do ônibus circular no sábado é às 18 horas. Como volto para casa?”, questionou Larissa. 

Para Eduardo Borges, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) é necessário ampliar os serviços públicos na região administrativa, criada em 2019. “Os trabalhadores do Sol Nascente pedem socorro. A gente tem uma dificuldade muito grande também com a discriminação. Os circulares que andam pelo Plano Piloto não são os mesmos circulares que andam dentro do Sol Nascente. Quem trabalha no Plano Piloto e mora no Sol Nascente é gente pobre, que constrói a cidade e é excluído da cidade”, analisou Borges.

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De acordo com dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), em 2021 a população da região era estimada em  92.217 habitantes. Apesar da quantidade da grande quantidade de moradores, uma das principais queixas é em relação à oferta de transporte público, principalmente aos finais de semana.

“Hoje o nosso maior pedido é uma linha até Taguatinga centro e a ampliação dos horários até o centro. As empresas precisam responder nossas reivindicações, porque nós merecemos um transporte de qualidade”, defendeu a moradora Claudinha do Pôr do Sol. 

Diversos moradores relataram problemas com o não cumprimento dos horários, redução de linhas, entre outros. “Hoje não há respeito com o usuário e precisamos de uma linha mais cedo, porque o porteiro e a diarista do plano moram aqui e precisam chegar mais cedo”, destacou a moradora do Trecho 2, Vilma Milhomem.

Também participaram do evento os moradores das áreas próximas da Ceilândia, como a moradora do P. Sul, Débora Sabrina, que reclamou da qualidade dos ônibus que circulam na periferia numa comparação aos do Plano Piloto. “Eu moro na periferia, mas sou gente e preciso do transporte de qualidade também”, avaliou Débora.


Professora Lisa Andrade chama atenção para os problemas de planejamento urbano da região administrativa / Brasil de Fato

Mobilidade Urbana

A iniciativa da audiência sobre Mobilidade Urbana como Direito à Cidade foi do presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU) da CLDF, Max Maciel (Psol). O deputado conduziu os trabalhos e apresentou um estudo realizado sobre a situação do transporte público na Cidade do Sol. Dentre os vários problemas apresentados destacam-se a diminuição na oferta de linhas que atendem o Sol Nascente e o Pôr do Sol durante o fim de semana.

Segundo o estudo, 70% das linhas deixam de existir no Sol Nascente no final de semana e algumas a redução de até 83% das viagens no domingo. “O reflexo é que a comunidade não tem direito a cidade no final de semana. Muitas pessoas se veem obrigadas a ficar em casa nos finais de semana. O Estado diz que falta demanda, mas qual é o estudo que aponta essa falta de demanda, porque não é o que nós escutamos", questionou Maciel.

O deputado também defendeu a gratuidade do sistema lembrando que atualmente o governo do DF (GDF) já é responsável por subsidiar 70% do sistema de transporte público e que existem recursos para cobrir os outros 30% que hoje são cobrados da população.

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No final do encontro Maciel destacou que as demandas dos moradores serão encaminhadas às empresas de ônibus e também aos órgãos, como a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), que não enviou representante à audiência pública.

O representante da São José, que é uma das empresas de ônibus que atua na região, Manoel Messias, participou do evento e após ouvir as demandas dos moradores disse que vai “trabalhar de uma forma redobrada e buscar melhorias”. o Administrador do Sol Nascente/Pôr do Sol, Cláudio Ferreira, também participou e disse ao final do encontro que acredita “que o governador vai resolver os problemas que a sociedade colocou”. 

A pesquisadora e professora da Universidade de Brasília (UnB), Lisa Andrade, chamou a atenção para os problemas de planejamento urbano, como a questão da drenagens em decorrência da falta de  áreas verdes na região administrativa. “Aqui não tem parque, não tem praça, não tem nada”, destacou a professora anunciando que pretende apoiar a comunidade na construção de um plano comunitário para resolver esses problemas.  

O promotor de Justiça da Ordem Urbanística, Dênio Augusto Moura, falou sobre a importância dos moradores lutaram pela formação de um  conselho, no qual os representantes da sociedade poderiam auxiliar na administração da região administrativa. “A sociedade civil pode e precisa se organizar. Hoje a maioria das administrações ainda não tem esses conselhos e as que tem são aquelas que já tem uma infraestrutura melhor, como o Lago Sul”, informou o promotor.

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Edição: Flávia Quirino