Distrito Federal

Justiça e reparação

Corregedoria e Ministério Público investigam assassinato de jovem negro

Carlos Gabriel Teixeira tinha 18 anos quando foi morto em uma ação da PM no Núcleo Bandeirantes

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Jovem levou três tiros, um deles nas costas, e caso reacende debate sobre racismo institucional - Reprodução

Ser um jovem negro do sexo masculino no Distrito Federal é ter mais chances de morrer que qualquer outro grupo, seja por ação do crime organizado ou vítima da violência policial. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do DF apresentou dados de 2022, quando a Capital teve os menores índices de homicídios em décadas, mas as vítimas preferenciais da violência seguem sendo jovens negros, como Carlos Gabriel Teixeira, 18 anos, morto no dia 15 de fevereiro, em uma ação policial no Núcleo Bandeirantes, região administrativa do DF.

Os relatos de pessoas próximas à família da vítima apontam que Carlos Teixeira estaria desarmado no momento da ação policial e foi alvejado com três tiros de arma de fogo, um nas costas, que perfurou o pulmão e os outros na perna. "Foram tiros a queima roupa, ele não tinha armas, nem qualquer objeto na mão, e ali mesmo na calçada, caiu desacordado", observa a assistente social que acompanha o caso Luiza Carvalho.

O Brasil de Fato DF teve acesso a vídeos gravados por testemunhas que mostram um jovem desacordado sendo colocado na parte de trás de um carro de polícia, sem aparentemente receber cuidados médicos. Em outro vídeo há uma quantidade de sangue na calçada onde o jovem teria sido alvejado.

Apesar de quase três meses, o assassinato do jovem Carlos ainda segue sem esclarecimentos. A assessoria de imprensa da SSP informou  que o caso está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Civil em segredo de justiça. A assessoria do MPDFT disse que o Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial (Ncap) acompanha o processo em sigilo. Ambos os órgãos não passaram nenhuma informação sobre a ação policial que resultou na morte do jovem negro.

"Gabriel era um jovem negro, oriundo de uma família negra, de extrema vulnerabilidade e riscos.Ele estava tentando retomar os estudos e fazia bicos com o tio, mas não teve a chance de mostrar, foi condenado à morte, pelo racismo que extermina a juventude negra e periférica nesse país", ressalta Luiza Carvalho que também é membro da Frente Distrital pelo Desencarceramento.

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Violência policial

A violência policial contra a juventude negra é tratada com preocupação. Estudante de Ciências Sociais, Túlio Alvarenga relata que infelizmente casos de assassinatos de pessoas negras em abordagens policiais não são grande novidade em Brasília. “A gente cresce ouvindo esse tipo de relato, porque a gente sabe do estigma que existem em relação ao jovem negro, que independente da vida que tiver é visto com desconfiança por toda sociedade, inclusive por policiais”, destaca ele.

“As pessoas brancas dizem que tem medo de serem mortas por bandidos e eu também tenho, mas também tenho medo de ser morto pela polícia, que deveria me proteger”, afirmou o estudante.

Os dados reforçam o medo de Túlio. O Anuário Brasileiro de Segurança Publica de 2022 mostra que enquanto a taxa de mortalidade por intervenções policiais entre brancos despencou 30,9% o mesmo índice aumentou 5,8% entre pessoas negras no Brasil, entre 2020 e 2021. O levantamento mostrou que 99% dessas vítimas eram homens; 43% tinham entre 18 e 24 anos e 84% eram negras.

Mulheres negras

Apesar de não serem as vítimas preferenciais da violência policial, o assunto é uma das principais pautas do movimento de mulheres negras, por ser uma grande preocupação desse público como explica Joseanes Lima, representante da Frente de Mulheres Negras do DF. “Nós sabemos que o racismo coloca nossos filhos na linha de frente de uma política que não valoriza a vida das pessoas negras e por isso nós sempre discutimos a violência policial, porque isso nos afeta diretamente”, explicou.

Segundo Joseanes, o movimento de Mulheres Negras faz uma análise conjuntural, a partir da exclusão da população negra das oportunidades de trabalho, logo após o fim da escravidão, do encarceramento dos homens negros com base em legislações de ‘vadiagem’ e por fim com a tentativa de extermino dos jovens. “A juventude negra tem perdido as suas vidas e quem chora por essas perdas são as mulheres negras. Por isso, a violência contra a juventude negra é uma pauta do movimento de mulheres negras”, justificou.

De acordo com o Atlas da Violência de 2021 a população negra em geral é a principal vítima da violência no DF. No ano de 2019 para cada 100 mil habitantes negros 21,1 foram vítimas de homicídio, enquanto o mesmo índice de pessoas brancas foi de apenas 8. Naquele ano 379 pessoas foram assassinadas, das quais 79% foram de pessoas negras, contra 21% de pessoas brancos e outros.

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Edição: Flávia Quirino