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Os desafios das mulheres na luta sindical

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Assassinada em agosto de 1983, Margarida Alves é símbolo de luta e resistência para mulheres sindicalistas - Reprodução
Os desafios para a participação política nos espaços de poder ainda são latentes e atuais

No mês marcado pela luta das mulheres, os desafios para a participação política nos espaços de poder ainda são latentes e atuais. Maioria da população brasileira, elas ainda são sub-representadas nos espaços de representação e participação política. Para além disso, a violência contra as mulheres é uma realidade brutal que vitima centenas de mulheres todos os dias.

Não distante da realidade de outros espaços políticos, no sindicalismo a luta das mulheres por reconhecimento é histórica. Desde o início do século XX as mulheres brasileiras lutavam por mais direitos nos espaços de trabalho.

Na década de 1980, Margarida Alves se tornou a primeira mulher a presidir um sindicato de trabalhadores rurais, em Alagoa Grande, na Paraíba. Uma história marcada pela luta por direitos trabalhistas e coragem. Assassinada em agosto de 1983, Margarida Alves é símbolo de resistência, principalmente para as trabalhadoras rurais, que se inspiram em seu legado combativo e atuante e realizam a cada quatro anos em Brasília, a Marcha das Margaridas, a maior marcha de mulheres da América Latina.

Em quase 45 anos de história e luta sindical, a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - Seção Sindical do ANDES-SN, por exemplo, foi presidida por apenas cinco mulheres, Doris Santos de Faria (1988-1990), Maria Francisca P. Coelho (1998-2000),  Graciela Nora Doz de Carvalho (2006), Rachel Nunes da Cunha (2006-2008) e Eliene Novaes (2022-2024).

Presidenta da ADUnB no biênio de 2006 a 2008, a professora do Instituto de Psicologia, Rachel Nunes da Cunha, aponta que um dos desafios para vencer a hierarquia social da sociedade patriarcal e machista, é aumentar a composição de mulheres nas chapas sindicais, em cargos de presidentes, vice-presidentes e secretárias e ampliar também a representação de mulheres negras e  indígenas nas universidades. Depois de Raquel, apenas em 2022, ou seja, dezesseis anos depois, a ADUnB-S. Sind. elegeu uma outra mulher para ocupar o cargo de presidenta da organização sindical.

“Eu sou mulher, negra, sertaneja, estar aqui é romper barreiras e digo isso porque esse sindicato tem 44 anos e serei a quinta mulher a presidi-lo. Estar aqui representa muita coisa, fruto de muitos sacrifícios e representa uma luta muito maior, é por isso que nós lutamos para que elienes, marias, josés, tenham as mesmas oportunidades e é por isso que lutamos todos os dias”, destacou Eliene Novaes, em seu discurso de posse em setembro do ano passado.

Ex-dirigente do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) e diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a professora Rosilene Corrêa, destaca que embora as mulheres já tenham conquistado alguns direitos, a caminhada ainda é longa, porque as mulheres ainda precisam ocupar espaços mais estratégicos. A Central Única dos Trabalhadores, uma das maiores de todo o mundo, não possui em toda a sua história uma mulher na Presidência.

“O movimento sindical cumpre um papel fundamental na mudança de cenário na política brasileira. Estamos avançando, temos mais mulheres, mais mulheres negras, indígenas, trans, jovens ocupando espaços no parlamento. Eu tenho certeza que isso é também resultado do trabalho no movimento sindical. Fruto do trabalho que desenvolvemos junto à nossa categoria”, observa Rosilene, que aponta ainda a necessidade de combinação de políticas para que as mulheres estejam em espaços de maior relevância. “Precisamos de um projeto de sociedade que mude essa realidade”. Rosilene também foi candidata ao Senado Federal nas Eleições de 2022 e ficou em terceiro lugar na disputa com 323.021 mil votos.

Ocupar os espaços de poder não tem a ver apenas o fato de ser mulher e estar nestes espaços, mas sobretudo, de lutar por um outro modelo de sociedade e mais, lutar pelos direitos da classe trabalhadora. O Distrito Federal, por exemplo, é representado por apenas duas mulheres na Câmara Federal, Erika Kokay (PT) e Bia Kicis (PL). Enquanto uma é aliada das trabalhadoras e trabalhadores, a outra é inimiga do povo. Eleita como senadora em sua primeira disputa eleitoral, Damares Alves (Republicanos) está longe de ser uma exímia representante dos interesses da classe trabalhadora.

O debate sobre a participação das mulheres em espaços de relevância e representação envolve sobretudo, inserir as mulheres que são comprometidas com a pauta e as demandas do povo brasileiro, com a defesa da democracia, a luta por direitos e sobretudo por melhores condições de vida. 

Quando as mulheres da Marcha das Margaridas caminham pelas largas avenidas de Brasília reivindicando direitos e condições de vida digna no campo, é comum ouvir a música “Sem medo de ser mulher”, que soa como palavra de ordem ou oração: “Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer/participando sem medo de ser mulher. Pois sem mulher a luta vai pela metade/Participando sem medo de ser mulher. Fortalecendo os movimentos populares/Participando sem medo de ser mulher”.

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*Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB - S. SInd. do ANDES-SN)

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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Edição: Flávia Quirino