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Depois de 8 de janeiro, a luta histórica em defesa da Democracia continua

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Quinze dias depois, o que se tem além da ação judicial que demanda respostas dos agentes públicos, é a reflexão sobre essa Democracia. - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Atos não foram isolados e são resultados de um processo político e econômico

O ataque à democracia com os atos golpistas que aconteceram no dia 8 de janeiro acende mais uma vez o alerta de que a história recente da democracia brasileira vive sob constante ameaça.

Se o que temos na sociedade brasileira é um projeto de democracia inacabado e que o conceito entendido majoritariamente dessa democracia é de que ela é representativa, ou seja, se determina com o direito ao voto, temos um problema não apenas conceitual, mas estrutural nessa mesma sociedade, que amargou durante mais de duas décadas sob uma Ditadura Militar.

Se esse é o conceito estabelecido socialmente é esse da representação, se houve eleição e um vencedor; mas se uma parcela radical e extremista da população - fomentada com discurso de ódio, introjetado nos últimos oito anos, e aparelhada por uma rede profissional de distribuição e elaboração de desinformação e notícias falsas - não aceita esse resultado eleitoral, apenas porque seu candidato não foi o vencedor e ataca contra as instituições brasileiras, o problema é grave.

A democracia é dinâmica, mas ela se converge em um denominador comum que é o direito à participação. Mas esse direito à participação não tem qualquer relação com o cenário de guerra observado pelas câmeras que captaram as ações golpistas no dia 8 de janeiro.

Os atos golpistas representam uma afronta direta ao Estado Democrático de Direito e caracterizam uma tentativa de golpe. Quinze dias após estes ataques, além da reconstrução material dos prédios, obras de artes, acervo nacional histórico, o que se tem além da ação judicial que demanda respostas dos agentes públicos, é a reflexão sobre essa Democracia.

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Se falamos que democracia é um projeto, esse projeto de sociedade que venceu as urnas no dia 30 de outubro de 2022 está sendo atacado. Mas não é de agora, está em curso desde 31 de agosto de 2016, quando houve o golpe, disfarçado de impeachment, contra a presidenta Dilma Rousseff.

Os atos de 8 de janeiro não foram isolados e são resultados de um processo político e econômico. Um processo organizado pela extrema-direita brasileira, capitaneada por setores empresariais e midiáticos desde antes do golpe, mas que inicia de fato logo após o resultado da eleição de Dilma Rousseff em 2014, quando também os descontentes com o resultado eleitoral começam a se movimentar e orquestrar o afastamento de uma  Presidenta legitimamente eleita.

Em 2018, veio a prisão de Lula, em um processo também constituído por meio de uma farsa, que o impediu de disputar as eleições presidenciais, já que era o primeiro em todas as pesquisas eleitorais da época. Sem Lula na disputa, Bolsonaro venceu as eleições e instaurou o caos em todos os setores da vida da população brasileira, a saber pelas mais de 600 mil vidas perdidas em razão da Pandemia de Covid-19. Bolsonaro não titubeou ao longo desses quatro anos em deslegitimar, descredibilizar as instituições brasileiras, ousou atacar o quanto pode e alimentou uma parcela da população que referenda as suas posturas e o têm como um verdadeiro “Messias”.

O projeto implementado por Bolsonaro assolou a democracia, retirou direitos, voltou com a fome, a precarização do trabalho, a criminalização das lutas sociais, a perseguição a servidoras e servidores públicos e principalmente, aprofundou as desigualdades no país.

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Após o 8 de janeiro, já houve prisões, bloqueios de bens, afastamento de governador, inquéritos, choros, desmaios, a reconstrução do patrimônio público já foi iniciada, mas para não permitir que fatos como esse se repitam é preciso punir todos os responsáveis e não deixar a memória morrer, afinal, esse é um dos episódios mais graves contra a democracia, desde a redemocratização, em 1988.

A esperança que tomou conta da Capital Federal em 1º de janeiro, com a festa popular que inundou as largas alamedas da Esplanada dos Ministérios, continua latente, porque a defesa da democracia, a defesa por direitos e por vida digna tende a continuar, sobretudo nas ruas, em luta.

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*Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB - S. SInd. do ANDES-SN)

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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Edição: Flávia Quirino