Distrito Federal

degradação

Arquitetos cobram investigação sobre danos causados no Palácio da Alvorada

Primeira-dama Janja da Silva denunciou estado precário de conservação de imóvel que era ocupado pela família Bolsonaro

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Danos no Palácio do Alvorada foram constatados pela primeira-dama Janja da Silva e o presidente Lula, novos inquilinos do imóvel; obras de arte e móveis que são patrimônio público estão sumidos - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O Departamento do Distrito Federal do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-DF) divulgou nota pública para manifestar "espanto" e "preocupação" com as más condições de conservação do Palácio da Alvorada, denunciadas essa semana pela primeira-dama Janja da Silva, em reportagem exibida pela TV Globo.  

Projeto de Oscar Niemeyer, o edifício, que é residência oficial do presidente da República, foi um dos primeiros inaugurados na nova capital. É considerado uma obra prima da arquitetura moderna brasileira, tombada em nível nacional e reconhecida internacionalmente como um grande marco da arquitetura do século XX. Nos últimos quatro anos, foi ocupada pelo presidente Jair Bolsonaro e família. 

"Obra síntese das artes - que alia arquitetura, artes visuais, design, paisagismo - é um palácio cujos ambientes foram planejados e compostos para representar a história, as virtudes, a diversidade, as relações com outros povos e a capacidade de produção cultural e grandeza da nação. Nada naquele palácio é fortuito, tudo possui significado e compõe a totalidade do espaço. Neste sentido, nos preocupa especialmente o fato de haver bens móveis não localizados e obras de arte com danos. Cobramos a apuração dos fatos e, como instituição, o Departamento do Instituto de Arquitetos do Brasil do Distrito Federal se coloca à disposição  para auxiliar nos procedimentos necessários à recomposição dos espaços dessa obra referencial e na elaboração de medidas para o acautelamento de seus ambientes e dos bens móveis - indissociáveis da arquitetura do Alvorada", diz a nota.

Destruição do patrimônio

Janja da Silva recebeu na quinta-feira (5), pela primeira vez, uma equipe de reportagem no Alvorada e denunciou o estado de conservação do edifício histórico. Com a repórter Natuza Nery, da TV Globo, ela percorreu todo o edifício, inclusive a área íntima do casal, e disse que vai fazer um inventário de todos os móveis, utensílios e obras de arte.

Durante a visita, foi possível ver parte da madeira de um mesa da sala de estar lascada, infiltrações no teto, vidros rachados e trechos do piso de jacarandá com buracos e rachaduras. Na biblioteca, onde o ex-presidente fazia as transmissões pelas redes sociais, uma poltrona de couro está rasgada e o tapete tem buracos.

A primeira-dama também mostrou uma imagem sacra, do século XIX, deixada no chão. Janja afirmou que muitos objetos e móveis vão precisar ser restaurados. "O que a gente percebe é que não teve cuidado, manutenção. Os móveis, os pés dos móveis que são de latão, não estão polidos. Os móveis não são os originais. A gente vai tentar recuperar isso", disse Janja.

"Ainda preciso fazer uma visita no depósito [de móveis da Presidência da República] e ver o que foi para lá. Tem muitos objetos que foram transportados de um lado para o outro, do Planalto para cá, daqui para o Jaburu. Então, a gente precisa localizar esses objetos. Eu e o presidente Lula resolvemos que a gente só vai mudar quando tiver um inventário completo do que tem aqui dentro, de como foi entregue para a gente", declarou.

No início da semana, o novo ministro da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, declarou que o governo Bolsonaro entregou as residências oficiais "de qualquer jeito" para a gestão Lula. Na quarta-feira (4) a Polícia Federal (PF) conduziu uma varredura no Ministério da Justiça. O mesmo procedimento será feito no Alvorada. Por enquanto, Lula segue hospedado em um hotel em Brasília, sem previsão de data para a mudança.

Para o IAB-DF, é preciso criar programas e políticas voltada à conservação da arquitetura e moderna e edifícios públicos de Brasília. 

"Um palácio público não pode ser tratado como espaço doméstico à mercê das vontades, preconceitos  e insensibilidades de seus ocupantes, e sim com o respeito que merece o patrimônio público e de interesse cultural nacional e internacional. Aproveitamos o momento e o debate público para reforçar a necessidade de se estabelecer programas e políticas voltadas à conservação da arquitetura moderna de edifícios públicos de Brasília, assim como de seus acervos móveis, que possuem valor econômico e cultural e que sejam cada vez mais acessíveis à população. Um palácio público e suas coleções pertencem ao público, portanto, defendemos que devem ser  conservados e que sejam novamente abertos à visitação".

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Edição: Flávia Quirino