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Participação Social

Artigo | O voto político

"Dar, individual ou coletivamente, um voto político é afiançar pontualmente a confiança, o compromisso e a cobrança"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Digo voto político pela obviedade da primazia da política como meio da tomada de decisão consciente e útil"
"Digo voto político pela obviedade da primazia da política como meio da tomada de decisão consciente e útil" - Pedro França / Agência Senado

Podemos discutir a natureza e o processo dos sufrágios e enveredar por meandros mil e discussões teóricas e ideológicas intermináveis e inconclusivas a respeito, mas o propósito dessa reflexão é modesto, estanque e pragmático.

Nos últimos dias tem tomado corpo a questão do chamado voto útil. Houve quem substituísse a expressão por voto consciente, ao que sugiro - mesmo considerando a segunda forma bem colocada - pensarmos na ideia do voto político.

Não se trata necessariamente de convencer partidos ou partidários, candidaturas e eleitores, a abdicar de suas pretensões, mas de dizer que o atual momento torna lícito um comportamento eleitoral dirigido, altruísta e responsável, com vistas a derrotar o germe fascista que ameaça dominar a vida nacional.

Digo voto político pela obviedade da primazia da política como meio da tomada de decisão consciente e útil. Também pelo fato de organizar, hierarquizar e priorizar a mesma decisão conforme a realidade concreta e objetiva, onde os fatos falam por si.

É preciso resgatar e estimular o voto político, essa capacidade em definir a contenda eleitoral de modo a encerrar um ciclo e abrir outro, mais promissor e fecundo em termos de debate societário, disputa de projetos e formação de maiorias ou entendimentos comuns.

O voto político aqui reivindicado é, portanto, uma espécie de convergência momentânea, não contratualizada, mas que pode resolver a contradição e o problema fundamental do cenário: o reavivamento dos princípios minimamente democráticos e institucionais abalados desde 2016.

Sua expressão prática indica o direcionamento do voto para a candidatura que reúna as exigências urgentes na perspectiva do triunfo da civilidade. Serve tanto para decidir a eleição presidencial de uma só vez, quanto para excluir da segunda volta aquelas candidaturas oportunistas que se valem das regras democráticas para violá-las agora e no futuro.

A partir dessa postura e sendo o voto capaz de provocar a mudança inicial, as demais peleias sociais, partidárias e programáticas evoluiriam num ambiente propício não só à democracia, mas também ao desenvolvimento, direitos e inclusão social.

Dar, individual ou coletivamente, um voto político é afiançar pontualmente a confiança, o compromisso e a cobrança com o Estado Democrático de Direito, Nacional Soberano e de bem-estar social.

Quem representa, aqui e agora, a oportunidade de virar a chave e criar caminhos para a reconstrução do país em nível de Estado e sociedade merece a consideração do voto político, pois ele é a salvaguarda de sobrevivência da frágil democracia que ainda nos resta e que demandará grande esforço de reconstrução.

* Alex Saratt, professor de história e presidente em exercício do CPERS/Sindicato.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira