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I Feira de Arte e Cultura Popular Moinho de Vento: o desafio que propomos

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I Feira de Arte e Cultura Popular Moinho de Vento tem muitos objetivos e acontece no dia 14 de agosto - Divulgação
A esperança é que consigamos tornar essa feira, que reúne diferentes grupos em um momento de trocas

Estamos chegando ao último ano de um governo desastroso para o país, do ponto de vista político, social, cultural e humano. Economia devastada, preços elevados, desemprego generalizado.

Tudo isso para além do desmonte das políticas públicas de proteção e sucateamento dos serviços, fazendo com que o empobrecimento seja ainda mais geral e a fome uma realidade cada vez mais presente na vida do brasileiro

Nosso povo sofre e nenhuma resposta vem dos atuais governantes, do Planalto e do DF, que visam interesses privados e a busca do lucro de poucos. Na verdade, nada é novo nessa história. Talvez apenas a explicitação da face mais maligna e desumana dessa lógica, a do capital, que há séculos dita o modo de organização política no mundo, sua estrutura.

A chegada desse tão esperado ano, como sempre a cada 4 anos, renova as esperanças de mudança e transformação. É tempo de nos questionarmos, sobretudo agora em que vivenciamos a “sensação de pós-pandemia”, que sociedade queremos construir daqui para frente.

Estamos habituados a buscar essas soluções em nomes e legendas a serem eleitas. Obviamente que alguns quadros podem ser mais ou menos propensos a gerar um contexto positivo à participação popular.

Mas a verdade é que sem o trabalho humano (e humanizado) e sem a organização do povo para protagonizar essas mudanças, estaremos sempre sujeitos (ou assujeitados) às conjunturas e ao humor dos poderosos, que hora se aliam aos discursos radicais que sem pudor afirmam a necessidade de mais desigualdades, hora se aliam a discursos mais moderamos que negociam uma nesga do banquete dos ricos para oferecer um mínimo para os pobres, sem nunca, contudo, questionar a perversa lógica do mercado.

Nós que somos a periferia é que sentimos na pele essa oscilação. É nossa dignidade que está sempre em disputa. E estamos em meio a uma grande contradição gerada pela alienação produzida por esse sistema, que nos rouba tudo: nossa força de trabalho, nossos modos de vida, os frutos que produzimos (materiais ou não), nosso tempo e a consciência de nossa grandeza.

Nós que crescemos vendo nossas mães cozinhando a lenha e plantando no quintal, hoje vemos a lenha se tornando sinal de pobreza pela falta do gás, mas ostentação exótica nos rústicos fogões a lenha das áreas de lazer das grandes mansões.

E as feiras, que sempre foram pontos de rica troca e produção cultural, estão se higienizando por projetos de urbanização nas periferias, que quase as tornam pequenos shoppings, sem sons e sem vida, enquanto os centros tentam reproduzi-las levando aquilo que nos é vetado: alimentos orgânicos e a cultura que antes era marginalizada.

Despertar

O despertar precisa acontecer e deve ocorrer a partir daqui. Esse é o desafio dos coletivos da periferia, fazer a reflexão sobre o que queremos e como queremos pensando no nosso agir no mundo.

A I Feira de Arte e Cultura Popular Moinho de Vento tem muitos objetivos: geração de renda, valorização do trabalho, promoção da arte e da cultura local. Talvez um dos mais importantes seja justamente proporcionar um espaço onde, por meio da ação, se produza uma nova compreensão sobre o que é o trabalho e o que significa gerar sustento e valor de modo cooperativo, criativo e solidário.

Escolhemos essas palavras porque elas designam modos alternativos de produção e desenvolvimento econômico que estão presentes na organização desta I edição da Feira Moinho de Vento.

Optamos por escrever um texto que apresentasse a perspectiva política que dá base às nossas ações do Coletivo Família Hip Hop, sobretudo no que concerne à organização dessa Feira. Encerrando o ciclo de 4 anos de um governo cruel, e ainda piorado pela experiência de uma pandemia, precisamos repensar e reconstruir alternativas que viabilizem a dignidade do povo.

No próximo dia 14 de agosto iremos festejar essa possibilidade com a união de diversas iniciativas de geração de renda, que buscam sustentabilidade e que estarão organizadas de forma cooperativa.

E como o povo promove trocas não só financeiras ou materiais, mas simbólicas, contaremos com a presença de artistas, poetas, brincantes, cantadores, dançarinos, rimadores e muitas crianças. Sendo o belo, popular, também haverá trançadeiras e bordadeiras, além dos artesanatos, comidas e bazares. Não pode faltar hortaliças orgânicas, produzidas em horta comunitária e vendidas a preços populares.

A esperança é que consigamos tornar essa feira, que reúne diferentes grupos em um momento de trocas e fortalecimento, um hábito mensal. Para que isso aconteça, esta I edição precisa ser valorizada por todos os parceiros do Coletivo Família Hip Hop.

Que todos se sintam convidados e acolhidos em mais essa iniciativa que se fundamenta na certeza de que sem a organização popular e o trabalho do povo, nenhuma mudança virá dessa ou de nenhuma eleição.

:: Leia outros textos da Família Hip Hop aqui ::

*Alex Martins Silva e Paula Juliana Foltran

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor e da autora não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino