Ceará

Violência política

A eleição de 2022 será marcada pelo medo?

Com o crescimento de crimes motivados por discordâncias políticas, ouvimos a opinião de quem sente medo de se manifestar

Fortaleza, CE |
Fora Bozo
Karla Galiza tem medo, mas não deixa de manifestar seu voto para 2022 - Print do VT

Quem encontra com Carla Galiza andando pela rua ou passa na frente do portão de sua casa, não tem dúvida de quem ela não apoia nessas eleições. E a engenheira agrônoma faz questão de usar seus adereços e exercer o direito de manifestar-se politicamente: “Nós somos pessoas progressistas, a gente entende que política partidária tem divergências e vai ter sempre, e é saudável ter divergências, é saudável ter pensamentos contrários, mas desde que isso seja através do diálogo construindo esse espaço político’’, defende.  

Mas mesmo fazendo parte dos que votarão no mesmo partido a frente das pesquisas eleitorais a presidência até o momento, muita gente tem se sentido insegura para fazer uso dos seus direitos democráticos do livre manifestar-se, principalmente, pela onda de violência e hostilidade que vem se instaurando no país: “No meu ponto de vista, hoje a gente tem um ambiente muito tenso de medo, se instaurou um medo na sociedade brasileira a partir dessa imersão, desse surgimento, desse fortalecimento dos fascistas, que está muito na figura do governo que a gente está hoje. Com esses 3 anos de governo Bolsonaro, esse medo só ampliou”, comenta Galiza. 

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Violência que muitas vezes não fica só nas entrelinhas, aumentando o clima de tensão e medo no país. “Esse sentimento está disseminado, esse sentimento está aí, vivo! E a gente tem razão de ter medo”, enfatiza a jornalista e professora universitária Kamila Bossato, que conta ainda como a filha passou por uma situação de hostilidade por conta de um adesivo: “Eu tinha colocado um adesivo no meu carro, um adesivo de Fora Bolsonaro, em vermelho. Meu carro é partilhado por outros familiares, e a minha filha tinha saído com o carro, era a primeira vez que ela usava o carro com o adesivo. No momento em que ela estava no carro, sentiu uma pancada, alguém deu um murro no vidro do carro e gritou, ‘é Bolsonaro’. Ela ficou apavorada, começou a ficar desesperada, tirou o adesivo do carro e brigou comigo - ‘como assim você me colocou em risco? ’, [ela perguntou]. Mas colocar uma manifestação política, você se manifestar politicamente é se colocar em risco, por quê? Por causa disso, porque a gente está vivendo um momento de exceção, um momento antidemocrático”, pontua. 

Tessíe Reis vende camisetas com a irmã e conta que foi censurada por um shopping da capital cearense por vender blusas partidárias: “aconteceu o fato da pior forma possível. O shopping não teve o cuidado da comunicação. Foi assim: “retire os produtos, não pode nada político aqui, nada vermelho”. Gente, quando eles falam “nada vermelho”, é um recado direto pra quem é de esquerda, pra quem é do campo democrático da esquerda”. 

Para o psicólogo Felipe Meira, o medo traz consequências que ultrapassam o viés político e afetam diretamente a saúde mental, que neste caso é coletiva: “Se eu não consigo expressar as minhas opções, as minhas opiniões políticas significa que eu não estou conseguindo expressar qual é a melhor forma que eu quero viver em sociedade. A gente sabe que o medo é importante na sobrevivência, a gente consegue sair de situações dificílimas quando estamos com medo, porém quando esse medo se torna arrastado, quando esse medo se torna prolongado, a gente tem um sério problema de saúde mental. Quando você passa a conviver com  medo, o medo traz ansiedade, traz paralisia, traz desespero, traz angustia, e você começa a ter esse sentimento de forma recorrente, isso vai causar graves problemas na saúde mental’’. 

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Edição: Camila Garcia