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Educação

Falta de professores em escolas de Curitiba tem gerado desinteresse nos alunos

Professores e sindicato realizaram ato por abertura de concurso público

Curitiba (PR) |
Professoras e professores realizaram ato no Centro de Curitiba, no sábado (30/04) - Foto: QuemTV

Depois de dois anos de pandemia, com aulas online, em casa, crianças que estudam nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Curitiba voltaram à escola enfrentando dificuldades no acolhimento e na atenção necessária a essa faixa etária (0-6 anos). Isso porque há falta de professores e o número de tutores para atender a crianças portadoras de necessidades especiais (PCDs) é insuficiente.

Mães e pais têm levado a preocupação a escolas, equipes pedagógicas e professores sobre a situação de atendimento aos alunos. “A gente sabe que está precarizado. Dentro do que o sistema municipal já ofereceu de qualidade, estamos em um momento muito delicado dentro das escolas”, diz Daiana, mãe de uma criança que frequenta CMEI.

Segundo o Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc), o número de professores em sala é insuficiente. Para tentar remediar a situação, a prefeitura está retirando os professores de educação infantil, com carga horária de 8 horas diárias de trabalho, e transferindo para outros centros de educação.

Por conta disso, foi aberto novo edital de contratação pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS), que está contratando Professores Docência I, que ficam apenas 4 horas para atender às salas de atividades do Pré I e II. Porém, a reivindicação é de realização de novo concurso público. O último foi em 2016.

“A contratação via PSS não garante o vínculo com as crianças e a comunidade, pois a contratação acontece de forma precarizada. Além disso, não há o cumprimento da lei da hora-atividade, um direito do professor e da criança, situação que além de colocar em xeque a qualidade da educação, tem sobrecarregado os professores, física e mentalmente”, dizem representantes do sindicato.

Crianças PCDs sem tutores

“Às vezes, a gente precisa sair para uma consulta ou exame médico, e a consciência pesa, pensando que nossas colegas ficarão sozinhas [em sala]. Essa falta de profissional acaba com a gente e com a qualidade da educação. Estamos em uma situação que precisamos escolher entre cuidar da criança com necessidades especiais (PCDs) ou dos outros 30 alunos em sala”, relata Kátia, professora de CMEI.

Por lei, as salas de CMEIs precisam ter pelo menos dois professores para atender às crianças. Para as mais de 1,2 mil crianças PCDs que frequentam os CMEIs, o Departamento de Inclusão e Atendimento Educacional Especializado (DIAEE) da prefeitura divulgou recentemente a contratação de apenas 880 tutores, número insuficiente para garantir atendimento de qualidade a essas crianças.

“E como fica essa criança que precisa da inclusão? Na verdade, a inclusão não acontece da forma como deveria. A propaganda é muito bonita, mas a gente precisa que os órgãos competentes tomem uma atitude”, expõe Edicleia Farias, dirigente do Sismuc.

Sem interesse

Uma mãe (que não quis ser identificada) diz que a situação tem gerado também desmotivação nas crianças.

“Meu filho está no último ano de CMEI, que deveria ser o mais esperado pelas crianças, pois se preparam para outro nível de ensino. Mas todo dia tem um professor diferente em sala", relata.

"Eu vejo que ele está perdido, não tem uma referência que possa auxiliá-lo, cada dia entra alguém que ele não conhece. Sinto que meu filho não tem mais interesse em ir ao CMEI, um lugar que deveria ser acolhedor. Nosso prefeito fala tanto nos curitibinhas, mas eles estão sendo deixados de lado,” diz a mãe.

Ato público

Professores realizaram, no sábado (30/4), mobilização no centro de Curitiba reivindicando a contratação de professores por concurso público, além de outras demandas, que, segundo o sindicato, não vêm sendo atendidas pela prefeitura de Curitiba.

Entre as principais reivindicações, além do concurso, estão o pagamento do piso salarial com reajuste de 37,73% e o descongelamento do plano de cargos e carreiras.

Secretaria

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação (SME) disse que “em caso de ausência pontual de um profissional, as unidades (escolas e CMEIs) reorganizam o quadro, conforme o caso, colocando outro profissional para atender às crianças/estudantes.”

E que “já foi autorizada pelo prefeito Rafael Greca a realização de concurso público para a contratação de servidores de carreira para as áreas da Saúde, Educação, Ação Social e Saúde Ocupacional. O concurso será aberto ainda em 2022. A expectativa é contratar 905 profissionais de 22 carreiras de nível médio, técnico e superior.”

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini