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Coluna

O vai-não-vai da privatização do CAVE

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Projeto do Complexo Esportivo do CAVE (Centro Administrativo Vivencial e Esportivo do Guará) - Reprodução/Imagens do projeto
A discussão sobre o destino do CAVE remete à valorização dos espaços públicos

Ibaneis quer, insiste, mas o processo se arrasta por motivos vários. Ano eleitoral aumenta os riscos...

O Complexo Esportivo do CAVE  (Centro Administrativo Vivencial e Esportivo do Guará), com mais de 40 anos de existência, foi sendo sucateado ao longo do tempo. 

O foco da privatização é uma área esportiva com mais de 10 hectares, compreendendo o Estádio de Futebol Antonio Ottoni Filho, o Clube Unidade Vizinhança e o Ginásio de Esportes, mas o Teatro de Arena também desperta interesse. 

O estádio esteve no roteiro da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, onde Brasília foi uma das subsedes. Antes da Copa, o estádio do CAVE seria reformado, com gastos estimados em 8.000.000 de reais, bancados pelo orçamento da União e destinado como espaço de treinamento de uma das seleções que disputariam a Copa. 

A ideia não prosperou, à vista da urgência que o calendário da Copa do Mundo requeria, mas o recurso continuava disponível. Com a troca de governo, em janeiro de 2015, Rollemberg toma posse e descarta o projeto, que exigiria uma contrapartida orçamentária do GDF em aproximadamente 5% do custo total. 

Em vez de utilizar os 8 milhões de reais disponibilizados, Rollemberg opta por iniciar o processo de concessão do CAVE, também chamada “privatização”. “Concessão por 35 anos” - ou seja, por três gerações - não merece outro conceito senão o de “privatização”, mais ainda nos termos generosos que o atual titular do Palácio do Buriti oferta para os pretendentes: outorga no valor mínimo de 72 mil/ano (valores de 2019), acrescido de 1,88% incidente sobre o “desempenho econômico do negócio”.

E como ficou?

Desde 2017 o GDF anuncia que o edital de privatização do CAVE “finalmente vai ser publicado...!”. 

Aparentemente, só há um grupo interessado, o atual presidente do time Real Brasília, que seria o centro gravitacional do Consórcio / SPE (Sociedade de Propósito Específico) a assumir a exploração do espaço. 

Nenhuma preocupação em ouvir a comunidade do Guará! Houve uma “audiência pública”, dessas “proforma”, exigidas pela legislação, em dezembro de 2019, onde aliás a maioria dos presentes se posicionou contra a privatização do espaço.

Nesse ínterim, além da destruição do campo do Estádio Antonio Ottoni Filho, uma tempestade provocou a queda de uma árvore na lateral frontal esquerda do Ginásio de Esportes do CAVE, inviabilizando a sua utilização. 

Além disso, a pandemia com suas óbvias restrições quanto à aglomeração, conspira contra o “modelo de negócios” da privatização do CAVE. 

Estamos portanto em situação de “ponto morto”: o edital de privatização sai-não-sai e a Administração do Guará, feudo de um deputado da base do governo Ibaneis, não faz o menor movimento para sequer fazer pequenos reparos, como o demandado no Ginásio de Esportes, para facilitar sua utilização para treinos, peladas e pequenos eventos pluri-esportivos.

Pelo menos um dos pré-candidatos ao governo do DF, Geraldo Magela, do PT, já se comprometeu com a recuperação e não-privatização do CAVE, inclusive anunciando que, se eleito, reverterá eventual privatização do espaço público. 

Enfim, a discussão sobre o destino do CAVE remete à valorização dos espaços públicos, ao apoio ao esporte comunitário, inclusivo, em alternativa à visão elitista, excludente, meritocrática, de megaprojetos , business, como esse de privatização do CAVE que pretende angariar um mínimo de três mil sócios do Clube Unidade Vizinhança, pagando 160 reais por mês (valores de 2019) e, além disso, avançando por “áreas adjacentes”, que pode abarcar o Teatro de Arena, a Casa da Cultura, o Centro de Convivência de Idosos e até a Feira do Guará, cuja viabilidade econômica que já não anda bem das pernas poderia sucumbir com a privatização, lembrando que a entrega do CAVE inclui atividades comerciais (gastronomia e outras atividades). no complexo esportivo privatizado.

A lógica do atual governo do GDF é o mais do mesmo! 

É a lógica da vulgaridade, do populismo neoliberal: sucatear para privatizar! 

Excluindo a comunidade de qualquer possibilidade de discutir e de opinar. Em tempos de eleição, esses mega negócios estão cada vez mais sob suspeição e desacreditando o tão-falado: “agora vai!!!... saiu a publicação do edital de privatização do CAVE”. 

Essas “negociatas” são mesmo muito arriscadas, porque quem fica de fora do “negócio” acaba denunciando e jogando areia nos acordos feitos por debaixo da mesa. 

Nessas contradições, a comunidade do Guará tem condições de se colocar como protagonista do processo e decidir democraticamente sobre o destino do Complexo Esportivo do CAVE. 

O primeiro passo para isso é derrotar Ibaneis e sua turma na eleição de outubro!

*Afonso Magalhães é Economista e Coordenador de Direitos Humanos e Relações Internacionais da Central de Movimentos Populares (CMP-DF)

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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Edição: Márcia Silva