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Do discurso à política, Bolsonaro é racista

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São várias as manifestações de Jair Bolsonaro marcadas pelo crime de racismo. - Evaristo Sa / AFP
É através da execução de sua política que Bolsonaro refaz o caminho dos escravagistas

São várias as manifestações de Jair Bolsonaro marcadas pelo crime de racismo. Antes ou depois de ocupar a cadeira da presidência da República, o capitão reformado do Exército nunca teve pudor ao proferir barbaridades contra a população negra. Mas é através da execução de sua política que Bolsonaro refaz o caminho dos escravagistas.

No discurso, Bolsonaro já se referiu a negros em medida de peso adotada para gado; já disse que o “black power” de um de seus apoiadores era para “criação de barata”; já afirmou que não “corria risco” de um filho seu se apaixonar por uma mulher negra, pois eles “foram muito bem educados”. 

A fala discriminatória, muitas vezes revestida de “piada” – o que não tem graça nenhuma em um país marcado pelo racismo –, é aplicada severamente nos projetos e propostas de Bolsonaro, inclusive no setor da Educação.

Prova disso é o desmonte do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O órgão do Ministério da Educação (MEC) teve a debandada de 37 servidores, que pediram exoneração diante da política aplicada pelo presidente do Instituto, Danilo Dupas, indicado pelo governo federal. 

Mais que a desvalorização e o desrespeito com o serviço e os servidores públicos, o desmantelamento do Inep reflete no prejuízo incalculável às pessoas negras. Isso porque, entre suas atribuições, o Inep é responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a principal porta de acesso ao ensino superior no país, sobretudo para negros e pobres.

Aliás, foi por causa da determinação de Bolsonaro de retirar a isenção de taxa de quem faltou à última edição da prova do Enem, que o exame teve a menor proporção de inscritos pretos, pardos e indígenas dos últimos dez anos em 2021.

No grupo dos 15 milhões de desempregados – um dramático cenário gerado pela política anti-povo de Bolsonaro –, a maioria também é negra. Sem política de garantia de emprego e diante da carência total de proteção social e trabalhista, negras e negros foram os que mais perderam os postos de trabalho. E também são negras e negros que recebem os menores salários, independente da formação.

Na multidão dos 19 milhões de famintos, negras e negros também são maioria. Com a política de Bolsonaro, o Brasil voltou ao Mapa da Fome e atacou sobretudo a população negra, que historicamente está também em maioria na camada socioeconomicamente vulnerável.

Também foram as negras e os negros os mais afetados pela pandemia da covid-19. Foram elas e eles os que menos se beneficiaram do trabalho remoto e os que mais foram vítimas fatais do vírus que ultrapassou a marca de 612 mil mortos no Brasil. Isso porque é imposto à população negra a dificuldade do atendimento de saúde, a moradia precária – onde um cômodo abriga dez pessoas –, a precarização do trabalho e tantas outras condições subumanas. 

Não bastasse tudo isso, foi também no governo de Bolsonaro que cresceu o genocídio de jovens negros nas periferias e o feminicídio que atinge principalmente mulheres negras.

É fato que as condições desumanas impostas a negras e negros reflete o racismo estrutural que há séculos acomete o Brasil. Entretanto, Bolsonaro vai na contramão de tudo que vinha sendo feito. Ele demoliu as políticas afirmativas para inserir negras e negros nas universidades; condenou programas sociais que garantiam comida no prato dos mais pobres (que também são majoritariamente negros); endemonizou a inserção da população negra no mercado de trabalho através do sistema de cotas. Bolsonaro é o avesso da igualdade racial e, ao mesmo tempo, a cara do preconceito contra o povo negro do Brasil.

É por isso que neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o ato pelo impeachment de Bolsonaro terá como mote o “Fora Bolsonaro Racista”. Este será um momento histórico em que negras e negros mostrarão que vêm sendo sim as principais vítimas de um desgoverno descredibilizado internacionalmente, mas que jamais aceitarão ser subjugados.

*Rosilene Corrêa é professora aposentada da rede pública de ensino do DF e dirigente do Sinpro-DF e da CNTE.

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa  a linha do editorial  do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino