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Coluna

Brasil, da fartura à miséria

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Temos fome. Não só fome de alimento, mas também fome de saber. - Foto: Roberto Parizotti
Caímos numa espiral de ódios, e de rancores, e de desamores. Veio o desalento.

No supermercado, os preços dos alimentos estão cada dia mais caros. Carnes com preços completamente inviáveis.

Pobres na fila para pegar ossos, restos de açougues. Supermercados começam a vender também carcaças de frango e osso de carne. A população, vivendo intensamente a realidade da insegurança alimentar, da ausência de um Estado amparador, com trabalhos precarizados sem um mínimo de direitos trabalhistas.

O Brasil conseguiu a façanha, neste ano de 2021, de contabilizar 20 milhões de famintos e miseráveis. Exatos sete anos depois de sair do mapa da fome.

O que aconteceu com este país?

Estávamos no auge da prosperidade, da fartura. Tínhamos pleno emprego, filhos na escola ou na faculdade, carro na garagem e uma casa para chamar de sua. 

Tínhamos pela primeira vez na presidência da República uma mulher. Nossas universidades estavam a pleno vapor, com seus pesquisadores ativos, e alunos fazendo intercâmbio no exterior. A ciência era respeitada e incentivada. 

No meio de uma pandemia (muito mais branda do que a que vivemos atualmente, é verdade), o nosso Sistema Único de Saúde conseguiu vacinar 88 milhões de pessoas em 90 dias.

Para todo lado que se olhasse, havia esperança. Não era perfeito, os problemas também eram muitos, mas eram resolvidos com debate, com negociação, com diálogo. Enfim, tudo era resolvido com democracia.

É como se a imagem que temos desse passado meio distante, mas não tão remoto assim, seja uma imagem em plena cor, com muita luz.

E de repente esta nação foi jogada numa realidade que ainda está presente e, nos nossos sentimentos, não tem cor, não tem viço, não tem luz. É a treva. Caímos numa espiral de ódios, e de rancores, e de desamores. Veio o desalento.

Desaguamos num país distópico onde imperam as desavenças, a desunião, a desgraça. 

Temos fome. Não só fome de alimento, mas também fome de saber. Fome de amor, fome de empatia, fome de solidariedade, fome de emprego, fome de vacina. Vivemos a miséria financeira, existencial.

A ciência é desprezada, o SUS estava a caminho do desmonte total até que, ironia do destino, a mais mortal das pandemias já vividas pela Raça Humana mostrou aos algozes deste país que o SUS é imprescindível.

Precisamos voltar à vida com cores, com luz, com amor. Basta de fome governamental.

*Rosilene Corrêa é professora aposentada da rede pública de ensino do DF e dirigente do Sinpro-DF e da CNTE.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Márcia Silva