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Coluna

Lá estão elas, na defesa da Agroecologia

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Mulheres estão na linha de frente de defesa da agroecologia - Divulgação MST
As mulheres seguem na luta diária contra a fome e na defesa da agroecologia

Hoje, 3 de outubro, é o Dia Nacional da Agroecologia.

Nas feiras agroecológicas, lá estão elas, fazendo circular a produção sem veneno, que leva comida saudável, colorida e saborosa para a mesa de sua família e para a mesa das famílias da cidade.

Mesmo que o agronegócio esteja vencendo no horizonte da economia, mesmo com a destruição criminosa das produções orgânicas e agroecológicas, mesmo com o aumento da gasolina que quase impossibilita o transporte dos produtos, lá estão elas, da roça para as feiras, no fortalecimento da produção agroecológica.

Nas agroflorestas, lá estão elas, atentas às mudanças das fases lua, atentas às mudanças das estações do ano, vigilantes na produção sem veneno. Tantas vezes nem nomeiam a riqueza e saberes que dominam. Mas sustentam sagradamente, a preservação da natureza e a produção de alimentos saudáveis.

Nas cidades, lá estão elas, e mais ainda durante a pandemia, manejando criativamente quintais produtivos que sustentem um mínimo de saúde e segurança alimentar para a família.

Nos encontros, lá estão elas, trocando sementes crioulas que foram guardadas com amor. Mulheres camponesas, mulheres quilombolas, mulheres ribeirinhas, mulheres indígenas. E desde sempre é assim e nunca foi fácil: quando precisa, elas levam a vida nos cabelos, como diria Eduardo Galeano.

Nos cuidados da terra, das águas, das crianças, das relações, lá estão elas. As mulheres, formando redes de solidariedade, cirandas de mães e crianças, espaços de cuidado com a saúde, mantendo vivas as tradições, atos fundamentais para reconhecer a sabedoria do solo e reverenciar o sentido da vida.

Nas tradições andinas, Pachamama, a mãe terra, é representação da divindade ligada à fertilidade, ao nascimento, à maternidade e à proteção da Terra e de seus habitantes. O sagrado cuidado da terra e o equilíbrio entre animais, plantas, água, solo, raízes com a produção e reprodução da vida.

Não se trata de misticismo, como podemos aprender com o legado de Ana Maria Primavesi. É preciso domínio das ciências da natureza para não sucumbir às propagandas enganosas do capital e preservar a vida e a biodiversidade.

Não é fácil resistir contra a produção do agronegócio. Dependente dos transgênicos, dos agrotóxicos e dos fertilizantes químicos, aliado do latifúndio e dos monocultivos, o agronegócio também abraça os racismos, as violências, as barbáries, as absurdas desigualdades, a política da morte, a superexploração do trabalho humano, até mesmo a escravidão, o controle dos corpos, especialmente o controle dos corpos das mulheres.

Nesse período tão duro, praticamente recaiu sobre as mulheres a responsabilidade da garantia do alimento das famílias, do uso das ervas, das mãos na terra, do cuidado com crianças, com idosos, com enfermos. Lá estão elas, enfrentando o isolamento com força e garra, lá estão elas, solidárias e alegres, lá estão elas, doando parte de seu trabalho, somando nas trincheiras da luta para garantir políticas de proteção e estimulo para a produção de alimentos, rompendo silêncios.

Juntamente com a força das reivindicações e defesa de justiça nas questões de raça, gênero, sexualidade e classe, as mulheres seguem na luta diária contra a fome, contra a violência e pela libertação, erguendo bandeiras, travando batalhas, intransigentes na potente defesa da agroecologia e da vida. Cá estamos...

* Ju Amoretti é cientista social, psicóloga, pesquisadora de mulheres, direitos humanos e pensamento social latino-americano.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino