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Coluna

O que representa o aumento do preço do RU da UnB?

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Os RUs são fundamentais na garantia da Segurança Alimentar e Nutricional dos estudantes - Foto: Audrey Luiza/Secom UnB
O desmantelamento do orçamento das Instituições de Ensino é o sucateamento da vida universitária

Recentemente foi noticiado aqui no Brasil de Fato DF o aumento do preço das refeições do Restaurante Universitário (RU) da Universidade de Brasília (UnB). Foi o segundo aumento em três anos. Em 2018 o almoço ou a janta que custavam R$2,50 para os estudantes, passou para R$5,20, e agora, para R$6,10.

Os RUs são fundamentais na garantia da Segurança Alimentar e Nutricional dos estudantes no ambiente universitário e deveriam oferecer refeições completas a um preço acessível a todos.

Infelizmente, o que está acontecendo com o desmantelamento do orçamento das Instituições de Ensino Superior públicas é o sucateamento da vida universitária. Isso implica na falta de melhorias na estrutura e de recursos que permitam a materialização do tripé universitário de Ensino, Pesquisa e Extensão, afetando o cotidiano de todos os estudantes, professores, técnicos e terceirizados. 

Com o Restaurante Universitário não seria diferente. A falta de um orçamento adequado que garanta o seu funcionamento, a melhoria de suas instalações e uma alimentação de qualidade a um preço popular trazem diversas consequências para a alimentação nesse ambiente como um todo. Outra questão importante que afeta diretamente o funcionamento da RU e a qualidade da alimentação é o processo de terceirização e a constante troca das empresas que prestam o serviço.

O aumento do preço da refeição não acompanhou a melhoria da alimentação ofertada, e, muito menos, diminuiu problemas comuns em alguns dias e horários, como das filas enormes para conseguir entrar no RU. Nesse sentido, os estudantes têm que escolher entre encarar uma fila que é incompatível com o intervalo das aulas ou realizá-las de outra forma.

Seja por causa do tempo, pela qualidade ou preço, a procura por outras opções de refeição se dão em cinco principais alternativas:

1. O consumo de salgados ou biscoitos disponíveis nas lanchonetes;

2. A compra de marmitas junto aos vendedores ambulantes – esse tipo de oferta houve um aumento gigantesco desde 2018 até o fechamento da UnB devido a pandemia -;

3. Refeições completas disponíveis em algumas das lanchonetes e restaurantes;

4. Trazer sua refeição do domicílio;

5. Ou não comer.

Essas outras opções tem seus problemas, e, junto ao desmonte do RU, cria um ambiente alimentar marcado pela insegurança. No sentido do aumento do consumo de ultraprocessados via lanches; em se arriscar no consumo de alimentos de marmitas que podem estar condicionadas ou expostas a temperaturas inadequadas; ou em simplesmente não comer.

No caso dos estudantes que estão nos programas da Assistência Estudantil, a questão se torna ainda mais grave, enfrentando mais de uma vez ao dia esses problemas relativos ao funcionamento e qualidade do serviço. Na pandemia, isso se tornou agravante, com diversas denúncias de intoxicação alimentar e relatos de terem encontrado cabelos, larvas, moscas e até plástico na comida ofertada aos estudantes da Casa do Estudante da UnB.

Como pode ser observado o aumento desse preço do RU não tem nada a ver com a melhoria das condições e a garantia do Direito Humano à Alimentação, indo em direção contrária.

Podendo ainda, ser fator limitador no acesso a uma refeição completa dos estudantes, visto a crise econômica e a perda da renda da população, potencializando assim, a insegurança alimentar na UnB. É necessário que os estudantes se organizem para reivindicar e que a Universidade tome medidas que garantam a Segurança Alimentar e Nutricional em seu ambiente.

* Olívio José da Silva Filho é gastrônomo, doutorando em Política Social pela Universidade de Brasília, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa  a linha do editorial  do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino