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Coluna

Como reagimos diante das farsas?

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Militantes do MAB participam de Fora Bolsonaro no dia 24 de julho - Divulgação
Devemos sempre reagir diante de uma ação, principalmente se estamos diante de uma farsa!

Todos nós lidamos diariamente com situações em nossas vidas que nos provocam reações, sejam um gesto de alegria, constrangimento ou raiva. E é notório que, nos últimos tempos, quem é brasileiro e vive no Brasil tem sentido basicamente dois tipos de reações: indignação ou tristeza. Não é para menos diante da atual conjuntura e do desmonte deliberado do Estado, no atual (des) governo.

A terceira Lei de Newton (princípio da ação e reação) nos diz que toda ação requer uma reação. Os físicos são sábios e têm muito a ensinar nas áreas de política e economia! Devemos sempre reagir diante de uma ação, principalmente se estamos diante de uma farsa! É certo que nem sempre conseguimos fazê-lo, pois podemos ficar paralisados. Nossa mente pensa, mas o corpo não acompanha.

Bom, essa breve reflexão inicial é para falarmos da atual farsa da crise hídrica que, segundo os farsantes, o setor elétrico tem vivido. É preciso, porém, ressaltar que essa armadilha não se iniciou agora. A teoria sobre escassez hídrica vem sendo repetida há décadas sobre a região Nordeste!

E, como já sabemos, esse discurso é naturalizado quando se trata do lado de lá! O que é um erro! E por que essa aceitação geral? Bom, é simples ao se colocar a culpa em Deus ou em seu castigo para o povo, quem poderá reagir às determinações divinas?! Ao assistir aos noticiários de veículos da grande mídia, temos visto essa mesma história sendo contata, agora sobre o Sudeste.

Deputados, comentaristas, jornalistas e autoridades em geral têm dado credibilidade ao embuste. Desta forma, a população pagará sua conta de energia “mais cara” e levará aos pés de uma imagem ou da fogueira santa pedindo a Deus para que os livre deste mal e traga chuva. Não me admira, se um dia, estivermos fazendo romarias por chuvas no Sudeste!

O certo é que a conta com o aumento da tarifa já tem chegado às casas e é mentira que é por falta de chuva. Quem fizer uma pesquisa básica perceberá que houve uma quadra invernosa na média em 2020. Ou seja, o volume de chuvas que caiu no Sudeste e Centro-oeste no ano passado não foi abaixo do padrão. Inclusive, houve muitos deslizamentos e desmoronamentos em função das chuvas, o que é outra preocupação recorrente no Sudeste!

Então, a última pergunta que fica é: para onde foi essa água que não foi utilizada para a geração de energia?! Ela passou livremente pelas comportas e sabemos que, com os reservatórios esvaziados, a energia torna-se um bem escasso e pode ser vendida mais cara. O cuidado de armazenar água para a estação seca foi colocado em segundo plano.

Sabemos que o sistema elétrico brasileiro é complexo pelo fato de seu sistema ser interligado e pela existência de reservatórios nas hidrelétricas. Se por um lado, isso complexifica as transmissões, por outro, possibilita ao sistema compensar períodos secos armazenando água e também enviando energia de uma região para a outra.

Ou seja, é preciso ter planejamento, pois, assim, mesmo diante de uma quadra chuvosa escassa, é possível gerar energia suficiente para as necessidades do povo, porque as hidrelétricas permitem esse armazenamento. As barragens que geram tanto impacto nos territórios onde são construídas deveriam ao menos servir para isso!

Para aprofundamento desta pauta sobre a farsa hídrica no Sudeste e no setor elétrico, indico ainda o artigo elaborado pela coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, que trata com profundidade sobre o assunto.

Concluo esse primeiro artigo agradecendo a oportunidade de tratarmos das pautas dos atingidos e atingidas em mais um meio de comunicação. Consideramos esse convite uma boa reação à invisibilidade que esse tema tem tido na grande mídia, pois sabemos da grande relevância da questão energética para nosso povo e para a compreensão do país que almejamos.

 

* Adriana Dantas é educadora popular, militante do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, atualmente contribui no Distrito Federal.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.

 

Edição: Flávia Quirino