Paraná

LGBTfobia

O discurso que provoca mortes

Aumentam casos de assassinatos de LGBTQIA+s e LGBTfobia no Paraná e no Brasil

Curitiba (PR) |
Entre 2015 e 2017, um LGBTQIA+ foi agredido por hora, segundo dados do SUS - Foto: Giorgia Prates

Lindolfo, Luara, Milena, Emmanuely, Luana, Madeleine. Nomes de trans, lésbicas e gays que tiveram destino trágico por fazerem parte da população LGBTQIA+. Casos que vão aumentando as estatísticas e sendo referendados pelo discurso de ódio e intolerância e destruição de direitos no atual momento político. Só em 2020, cerca de 175 transexuais foram assassinadas no Brasil, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), aumento de 48% diante de 2019. Entre 2015 e 2017, um LGBTQIA+ foi agredido por hora, segundo o Sistema Único de Saúde (SUS).

E a lista de nomes que sofrem violências aumenta a cada dia no Paraná. O corpo de Lindolfo Kosmaski, ativista LGBTQIA+ que atuava junto ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi encontrado carbonizado no sábado (1º de maio), em São João do Triunfo (PR). Tinha 25 anos e foi candidato a vereador na cidade em 2020. Manifestantes protestaram contra a morte no domingo, 9. Três suspeitos já estão presos. Toni Reis, diretor-presidente da Aliança Nacional LGBTI, acredita em crime ligado ao preconceito. "Para nós está claro o crime de LGBTfobia, inclusive mataram e queimaram o corpo", diz.

Órgãos de segurança do Paraná investigam ainda a morte de mais dois homossexuais e a possibilidade de os crimes estarem interligados. O enfermeiro David Levisio, 30, era do interior do estado e morava em Curitiba. O corpo dele foi encontrado por amigos em seu apartamento, no bairro Lindoia, em 30 de abril. Já Marcos Vinício Bozzana da Fonseca, 25, era de Campo Grande (MS) e cursava medicina em Curitiba desde 2017. Amigos também estranharam seu desaparecimento e chamaram a polícia após irem até o apartamento dele e encontrarem o imóvel trancado. "Em todos os casos houve requintes de crueldade. A pessoa não queria somente matar, mas despejar ódio", afirma Reis.

Homofobia nos palanques

Em Maripá, no Extremo-Oeste do Paraná, um vereador do Cidadania, Donaldo Seling, atacou o ator e humorista Paulo Gustavo, que faleceu por Covid-19 no último dia 4. Na Câmara da cidade, no dia 5, Seling disse em tom de deboche que "esta coisa moderna não serve para mim: um é marido e o outro é marido também, não podemos pregar esse tipo de coisa. Tem que saber quem seria a mulher dos dois, para poder agradecer no dia dos pais. Quem é a mãe das duas?". Ainda completou dizendo: "Não podemos perder o que há no coração de uma mãe, o que há de mais bonito de uma família unida: pai e mãe, não marido com marido ou marida com marida. Não sei como fala essa porcaria, do tanto que odeio isso".

O discurso provocou manifestações em apoio à comunidade LGBTQIA+s. Na segunda (10), ativistas ocuparam os assentos do plenário para protestar. Ação também foi movida no Ministério Público. O problema é que esse discurso encontra eco entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, como o apresentador Sikêra Jr e deputado estadual do Paraná Delegado Jacovós (PL).

Para Toni Reis, discursos de ódio sempre existiram, mas faz um alerta. "O discurso não mata, mas afia a faca. Antes dos campos de concentração, os nazistas criaram uma narrativa de perseguição a minorias". Ele diz que todos os discursos e denúncias de propagação de homofobia vêm sendo judicializados pela Aliança Nacional LGBTI.

Trans sofrem mais

Para a psicóloga e ativista do grupo Mães pela Diversidade Denise Villarinho, esses discursos estimulam a violência. "A violência tem sido legitimada no governo Bolsonaro. Na própria festa de vitória dele há carro gritando pelas ruas: 'viado vai morrer'. As pessoas receberam o aval para manifestar esses discursos de ódio", cita.

Já para Renata Borges, produtora cultural e ativista da Associação Nacional de Transexuais, as mulheres trans são as que mais sentem as políticas de desmonte de direitos de Ratinho Jr e Bolsonaro. De acordo com dados da Antra, mais de 90% da população trans está em situação de prostituição. A expectativa de vida de uma mulher trans é de 35 anos. Se for negra, cai para 28 anos.

"Para a população trans não consigo ver um futuro melhor", diz. A ativista ainda denuncia o desmonte do Centro de Pesquisa e Atendimento para Travestis e Transexuais, que que atende na Secretaria de Saúde do Paraná, e desenvolve políticas de saúde pública para transexuais. "O governo Ratinho Jr vem reproduzindo todas as medidas do governo Bolsonaro de desmonte. Não aguento mais enterrar minhas colegas e vê-las morrerem sem atendimento médico e violentadas", denuncia. 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini