Ceará

Visibilidade

"Sou punido pelo crime de ser eu mesmo", afirma ativista transexual

Joaquim relata que ser uma pessoa transmaculina nesta sociedade é estar constantemente em alerta

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Joaquim relata que ser uma pessoa transmaculina nesta sociedade é estar constantemente em alerta, é como viver pela metade. - Foto: Arquivo Pessoal

Em 29 de janeiro é celebrado o Dia da Visibilidade Trans. Mas o que tem para se comemorar nessa data? O professor e ativista nos movimentos negro e LGBTQIA+, Joaquim Ferreira afirma que, definitivamente, esse não é dia de comemoração. "Espero que um dia ainda seja, mas hoje, é um dia de luta para sermos verdadeiramente vistos. Quando falamos de visibilidade é para além de uma representatividade, queremos direitos e para isto, precisamos que o poder público enxergue e atenda as nossas demandas como quaisquer outros cidadãos".

Joaquim relata que ser uma pessoa transmaculina nesta sociedade é estar constantemente em alerta, é como viver pela metade, não ter uma vida digna, não ter direito ao próprio corpo e a vida. "Sou punido pelo crime de ser eu mesmo, por expressar meu gênero e a minha sexualidade. É extremamente desanimador olhar para essa sociedade e não enxergar o mínimo de acolhimento e respeito". Para além das dores, ele também explica que ser uma pessoa trans é também descobrir possibilidades de vida para além de um mundo onde tudo deve ser vigiado e punido.

Sobre transfobia, Joaquim cita como exemplo pessoal algo que, de acordo com ele, marcou muito o início da sua transição, que foi a falta de acolhimento das pessoas ao seu redor, onde era ativista. "As pessoas tinham dificuldades em respeitar minha identidade e eu era o tempo todo jogado em estereótipos agressivos e faziam da minha identidade algo banal", diz.

Questionado sobre os desafios de ser uma pessoa trans no nosso país, ele diz que "O Brasil não é um país acolhedor para nós". De acordo com ele, mesmo sem ter uma lei que condene e puna pessoas que têm sua identidade e sexualidade fora do padrão heterocisnormativo, as pessoas trans vivem em constante perigo social que se estabelece dentro de uma cultura extremamente fundamentada na religiosidade cristã. "A maior dificuldade é sermos vistos como cidadãos brasileiros. Nosso maior desafio, sem sombra de dúvidas, é continuarmos vivos em meio a tanta violência".

Edição: Monyse Ravena